A cidade de Cubatão, nossa
vizinha, tão antiga quanto Santos, a que pertenceu durante séculos.como
vila esquecida e atrasada. Seu progresso só veio após a
emancipação em 1949, escolha feita em plebiscito pelo povo,
transformando-se em município. Em 1942 não passava de um caminho que veio a se
chamar Principal e que, com a emancipação teve seu nome alterado para 9 de
abril. .
Em 1950, quando vim a nela morar
ainda era um princípio de cidade. Outras ruas e avenidas foram abertas, novos
bairros foram acrescidos; sua população foi aumentando especialmente com a
instalação das grandes indústrias. Antes, eram só a Cia. Santista de Papel, no
sopé da via Anchieta, a Cia. Anilinas no centro da vila, uma pequena indústria
no bairro Olaria ao lado da Via Anchieta. A primeira grande indústria a se
instalar foi a Refinaria Presidente Bernardes. Outras seguiram-lhe os
passos porque a geografia da região o permitia. A proximidade do porto, a
via Anchieta, a ferrovia, etc. Hoje são muitas. A administração própria
soube conduzir a política pública desde o princípio. Hoje a situação é outra.
Os poderes públicos maiores estão cegos para essa realidade. Ao que parece, o
sistema ferroviário está ultrapassado, já não transportam mais pessoas; somente
cargas pesadas; as vias rodoviárias sujeitas a pesados caminhões têm vida
curta. Não suportam tanto peso. Também, devido ao crescimento
industrial e populacional. A região está a exigir nova ferrovia para o
interior com mais velocidade e capacidade de carga. Outros paises souberam se
adaptar a essa nova realidade e dispõem de trens balas para a população;
eliminaram o transporte por ônibus entre cidades; a população usa o trem, farto
em qualquer direção. Já nem quero falar em hidrovias para Santos, Guarujá, etc.
para transporte de carga e de pessoas.
A antiga vila de um só caminho já
é uma cidade importante com densa população. Está a exigir modernidade. E essa
modernidade compete aos políticos.
Eu a conheci, de passagem, em
1942, quanto me dirigia para o colégio em São Paulo. O caminho começava na
ponte sobre o rio Casqueiro e ultrapassava a Estação do trem continuando até
encontrar o rio Cubatão.. Já em 1950 um ano após a emancipação os ares
eram de cidade, dispondo da rua Joaquim Miguel Couto que começava na via
Anchieta, despida de casas de moradia por mais de dois quilômetros; dos dois
lados vegetação rasteira. Outra rua importante era a Pedro José Cardoso; as
demais, transversais e poucas.. Minha vinda para a cidade se deu por que
havendo trabalhado durante a construção do Oleoduto, que iria transportar
petróleo e derivados para São Paulo e Refinaria de Capuava no escritorio de
Santos, de lá fui transferido para a estação de bombas de Cubatão onde passei a
exercer a função de aferidor de tanques. Assim vim a morar na sua vila
residencial especialmente construída para esse fim. Por essa época havia uma
composição ferroviária, de pequeno porte, que servia à Cia. Santista de Papel,
de outro lado do rio. A cidade ainda dispunha, na av. 9 de Abril da Cia. de
Anilinas que ocupava uma grande área no centro; Outra industria, pequena, havia
no bairro chamado Olaria, ao lado da via Anchieta.
A vida era tranqüila para os
moradores da vila e arredores. Dali para o centro da cidade a estrada era de
terra; a distância de quatro quilômetros, mais ou menos. Para a compra de
alimentos todos se locomoviam a pé; os pouquíssimos veículos que transitavam
pelo trajeto obrigavam os transeuntes a se encostarem nas valas laterais; as mercadorias
eram trazidas nos braços ou nos ombros. Ninguém reclamava. Nesse trajeto, antes
da via Anchieta haviam duas pedreiras em pleno funcionamento; uma delas
pertencia ao sr. Abel Tenório de Oliveira e outra era da família Cunha. Havia
também um armazém de secos e molhados cuja proprietária era uma senhora chamada
Constância. Com o tempo, os empregados do Oleoduto resolveram se cotizar e
passaram a fazer compras de arroz, feijão e outros materiais de cozinha em São
Paulo, capital, na rua Maria Paula, se a memória não me engana, junto à estação
da Luz. Para isso o Oleoduto cedia um veículo que subia a serra uma vez por
mês.
As famílias da vila se davam bem;
os filhos se reuniam um dia por semana numa das casas e cantavam ao redor de um
piano. Chegaram a se apresentar para o público na sede do Esporte Clube Cubatão
e até numa igreja na cidade de São Caetano.
Depois de dois anos eu já era
chefe dos aferidores e não mais trabalhava em turnos. Quem dirigia tecnicamente
o funcionamento do Oleoduto eram três americanos que vieram especialmente para
esse fim; E como eu tinha certa fluência em inglez, deles me tornei amigo. Não
demorou e subi para o cargo de chefe da estação.
Por esse tempo eu já possuía
pequena motocicleta. Já tinha condução para continuar meus estudos;
assim, terminei o segundo grau e me preparei para o vestibular da Faculdade de
Direito.
Quando a moto apresentava defeito
eu me utilizava de ônibus da linha Fabril, distante dois quilômetros da vila.
Na volta, tarde da noite, do ponto final dessa linha, subia até a via
Anchieta, caminhava mais ou menos um quilômetro, descia a rampa lateral e
adentrava na área do Oleoduto onde andava por mais um quilômetro para chegar em
casa por volta das 24 horas. Sentava-me á mesa com os apontamentos feitos durante
as aulas e punha-me a recordar as lições do dia. Somente ia para a cama lá
pelas três horas da madrugada. A matéria aprendida durante as aulas precisava
ser estudada no mesmo dia. No dia seguinte ia enfrentar oito horas de trabalho.
Assim foi possível terminar ok curso superior no tempo previsto de cinco anos.
No entanto, só iria começar o exercício profissional perto de dez meses após.
Pouco tempo depois eu já trocava o funcionalismo federal pelo emprego na
Refinaria União de Capuava na cidade de Santo André para ganhar três vezes
mais; foi quando instalei o meu primeiro escritório na cidade de Santos.
Foi na década de 50-60 que
começou a se desenvolver o bairro da Vila Nova com sua área dividida em lotes e
vendidos a prestações. Agora, a via férrea que transportava cargas da Estação
do trem para a Fabril, passando em frente à vila dos funcionários para logo em
seguida ultrapassar uma ponte ferro sobre o rio Cubatão foi desativada. Em
1950, já emancipada de Santos, foi seu primeiro prefeito o sr. Armando Cunha
então titular do cartório do registro civil de Cubatão. A Câmara de Vereadores
já funcionava regularmente.
Nas linhas acima as impressões da
antiga vila de Cubatão e os primeiros passos como município autônomo de Santos;
também gravo a vida pessoal e familiar. Olhando para trás vejo que contribuímos
para o progresso da então vila; minha mulher, que era professora também se
formou em pedagogia; entrou para o quadro de funcionários da Prefeitura, tendo
sido a primeira professora e, depois diretora de escola no bairro do Jardim
Casqueiro e em outros locais da cidade. Essa foi a contribuição da família
Franco para o progresso desta cidade nesse período da história.
Jorge Martins
Franco
09.04.2010
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