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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CUBATÃO - UM POUCO DE SUA HISTORIA ( A MORTE DE ABEL TENORIO)

No dia 26 de maio de 1964, uma terça-feira, o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria:
Vingança foi o móvel do crime que eliminou o prefeito Abel Tenório Oliveira

Fonte – Site Milênio

Na medida em que evoluiu há 5 lustros a progressista cidade de Cubatão, foram surgindo de modo crescente os problemas políticos no município e agravando-se nos últimos anos, quando um alagoano, ex-investigador de polícia na Capital, ali chegou e se juntou à então já numerosa população do Norte e do Nordeste que viera para a florescente cidade-sede da indústria pesada, na raiz da Serra do Mar.

Esse alagoano, que surgira em Cubatão pelos idos de 1945 como vendedor de determinado vegetal cujas fibras são indicadas para o fabrico de papel, não era outro senão Abel Tenório de Oliveira, parente próximo do deputado federal Natalício Tenório Cavalcanti, que já começava a projetar-se na política nacional como representante do Estado do Rio.

Valendo-se do parentesco e gostando de política, Abel Tenório foi aliciando amigos e eleitores para, em 1949, na primeira eleição realizada logo após a emancipação política do antigo distrito de Santos, candidatar-se ao cargo de prefeito, sendo derrotado pelo então mais prestigioso político de Cubatão, sr. Armando Cunha.

Quatro anos depois voltou a pleitear sua eleição, também sem sucesso, o que se repetiu outra vez em 1957, quando novamente derrotado pelo sr. Armando Cunha, a quem, afinal, veio a suceder em 1961, quando se candidatou pela quarta vez.

Antecedentes - Desde que iniciou suas atividades na política de Cubatão, Abel Tenório começou a rodear-se de elementos conhecidos como "jagunços", que se metiam constantemente em desordens e, pelos motivos mais fúteis, usavam facas, garruchas ou revólveres contra os desafetos.

Aos poucos, foi o forasteiro criando em torno de sua pessoa um círculo de inimizades, notadamente dos políticos nativos de Cubatão e que não se conformavam, jamais, com o crescente prestígio que Abel conquistava.

Por volta de 1952, já então dono de uma pedreira em Cubatão, Abel foi apontado como tendo auxiliado pecuniariamente um seu amigo que precisara fugir após matar a tiros de revólver, numa noite, dois pernambucanos empregados nas obras da Refinaria Presidente Bernardes, em atrito havido na praça Joaquim Montenegro. O criminoso, desaparecido então, até hoje não foi localizado.

Dois anos depois, em Piaçagüera, matou dois coestaduanos seus que tentaram matá-lo, tendo sofrido então grave ferimento cortante no pescoço, quase seccionada a carótida.

Um crime - Eleito prefeito, Abel Tenório de Oliveira, que atualmente contava 57 anos de idade e era casado pela segunda vez, teve contra si a mais vigorosa campanha oposicionista que até então havia sofrido um chefe de Executivo municipal em Cubatão.

Um de seus opositores, o vereador Aristides Lopes dos Santos, mais conhecido pelo apelido de "Dinho", comerciante e esportista benquisto, elemento de destaque na sociedade de Cubatão, conseguira, - segundo declarava publicamente - coligir provas de que o prefeito realizava transações ilícitas e que na primeira sessão da Câmara Municipal em que estivesse presente iria denunciar as irregularidades.

Coincidentemente, na véspera da sessão do Legislativo em que o vereador Aristides Lopes dos Santos deveria acusar o prefeito, foi assassinado à porta do bar de sua propriedade. O assassino, José Alves Campelo, pessoa ligada a Abel Tenório, estivera algum tempo como assalariado da Prefeitura e havia sido despedido, retirando-se para São Paulo. Nunca tivera qualquer contato anterior com Aristides Lopes dos Santos, a quem, ao que consta - nem sequer conhecia.

Dois dias antes do crime, Campelo chegara a Cubatão e tivera encontro com Abel Tenório, de quem recebera arma com a qual eliminou depois o vereador, sem motivo algum pessoal a justificar tal ato.

A fuga de Campelo com o desaparecimento que perdura até hoje sugere bem a suposição de ter sido encomendado o homicídio por Abel Tenório.

Afastado - A repercussão do crime que vitimou o estimado vereador levou a polícia a uma série de investigações e o inquérito concluiu pela participação do prefeito de Cubatão, no crime, como mandante.

Eram tão fortes as provas que o juiz da 3ª Vara Criminou decretou a prisão preventiva de Abel Tenório, que teve de se licenciar para não ser recohido ao xadrez.

Diante dos acontecimentos, a Câmara Municipal considerou o sr. Abel Tenório impedido, situação essa que durou de 5 de março de 1963 até 5 de dezembro, quando o Supremo Tribunal Federal, tornando sem efeito a prisão preventiva, concedeu habeas corpus ao prefeito de Cubatão, que logo depois foi reconduzido ao seu cargo, após ter a Edilidade cubatense concordado com a reassunção por 8 votos contra 5, em histórica sessão.

Vingança - A impunidade de Abel Tenório e sua volta à Prefeitura reacenderam na cidade a sanha dos inimigos, que passaram a hostilizar os vereadores que votaram a favor do chefe do Executivo, ao mesmo tempo em que circulavam com insistência boatos de que parentes e amigos do vereador Aristides Lopes dos Santos iriam vingar-lhe a morte.

Um dos que constantemente faziam tal ameaça era Afonso Lopes dos Santos, funcionário do DER e irmão do edil assassinado. A mais de um amigo, dizia Afonso que somente aguardava o momento propício para eliminar Abel Tenório.

Sábado - Na noite de sábado último, comemorando o Dia da Indústria, transcorrido ontem, o Lions Clube de Cubatão promoveu sessão solene na sede do E.C. Cubatão, à rua Joaquim Miguel Couto, nº 329, ocasião em que o prefeito Abel Tenório de Oliveira, alvo de homenagem, recebeu uma estatueta de bronze.

Pouco depois das 23,30 horas, terminada a solenidade, o prefeito deixava a sede do clube acompanhado de seu secretário Marcelino Nunes Cruz e da esposa deste, Cecília Duarte Cruz, brasileira, de 37 anos de idade, residente o casal à rua Antônio Lemos n. 64.

Já no meio do passeio, Abel Tenório foi seguro pelos braços por dois adolescentes, agora identificados como Carlos Lopes dos Santos, de 17 anos de idade, e Roberto Lopes dos Santos, de 15 anos, ambos filhos do falecido vereador Aristides Lopes dos Santos.

Ao sentir-se seguro, Abel tentou desvencilhar-se, descendo com os dois o meio-fio, sem notar que por trás surgia Afonso Lopes dos Santos empunhando um revólver. Vendo seguro o prefeito pelos sobrinhos, desfechou um tiro nas costas de Abel, que sentindo-se ferido, conseguiu libertar-se dos rapazes e sacar ainda de um de seus revólveres, um "Smith and Wesson" de calibre 32.

Entrementes, Cecília Buarque Cruz, talvez atemorizada com a cena, correu para o meio da rua, procurando fugir, mas foi infeliz, pois ficou como alvo do revólver de Afonso que, no momento, dava ao gatilho pela segunda vez. O projétil foi acertar na perna esquerda da mulher, que soltou um grito e correu em direção de Abel Tenório, no mesmo instante em que, já gravemente ferido, conseguiu sacar o revólver e fazer dois disparos, um dos quais acertou em Cecília, em pleno baço, indo o projétil alojar-se no coração.

A essa altura, Afonso saltou por sobre Cecília e aproximou-se de Abel, que, perdendo as forças, tombou de bruços e recebeu mais três tiros, dos quais dois na cabeça e um nas costas, fulminando-o.

Levada agonizante para o Pronto-Socorro de Cubatão, Cecília veio a falecer antes mesmo de chegar ao dispensário.

Sepultamento - Na tarde de domingo, saindo do necrotério da Santa Casa, realizaram-se os funerais de Cecília Duarte Cruz às 16 horas, no cemitério da Filosofia, e de Abel Tenório, às 17 horas, na necrópole do Paquetá, ambos com grande acompanhamento.

Inquérito - O inquérito instaurado na Delegacia de Cubatão e presidido pelo dr. Fernando Marreiros Sarabando tem prosseguimento, com depoimentos de testemunhas oculares e declarações prestadas pelos dois menores, sobrinhos do criminoso, que confessaram suas participações no crime, procurando imobilizar Abel Tenório enquanto o tio o feria pelas costas.

Em poder de Abel Tenório a polícia apreendeu 2 armas de fogo: um revólver "Smith and Wesson" de calibre 32, com 2 cápsulas deflagradas, e uma pistola "Bereta" de calibre 6,35 mm, com a carga intacta.

Na ocasião em que estivemos na Delegacia de Cubatão, cerca das 17 horas, o dr. Fernando Sarabando aguardava a remessa dos laudos da Polícia Técnica e do Gabinete Médico-Legal, duas importantes peças que melhor servirão para instruir o inquérito.

Um reforço de 12 soldados do 6º BP da Força Pública encontrava-se em Cubatão, unindo-se aos 15 homens que compõem o efetivo do destacamento local.

Apesar da natural repercussão que o crime provocou em Cubatão, o ambiente era calmo naquela cidade, em luto oficial decretado pelo sangrento acontecimento e feriado municipal o dia, pelo transcurso do Dia da Indústria, o que levou o comércio a permanecer fechado.

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