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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ESPERANTO NO ANACOLUTO

Belo texto, Carlos.

E olha como termina o meu livro "A Onipresença Eterna".... Eu ia terminar assim, mas : quando Rosa e sua gangue de gafanhotos alcançaram o poder... 

Fica pra próxima...

Escutou vozes de espíritos sorrateiros, de grisandras esquizofrênicas que se denunciavam com o simples rumorejar da tristeza, e antes de fechar os olhos para a efemeridade da vida viu a transfiguração de sua cidade, a qual poucos conheceram, mas passaram a amar, entrando para o rol do mundo contemporâneo, que ficou conhecida como a cidade onde as pessoas atracavam somente para trabalhar, e como a cidade da esperança, com seus jacatirões e gafanhotos exóticos, e viu que ela se transformava numa nova e adquiria pela virada das páginas do destino o nome que sempre quiseram dar, ao compreenderem que antes era preciso chamar-se Itutinga-Pilões e Morada Velha para vir a se chamar o que se chamaria.

Não teve tempo para mais nada, e a região que era conhecida como ku-ba-tã do tupi ficou tão obsoleta, tão antiga na precisão dos segundos, que o “k” foi apagado do alfabeto dos homens e substituído pelo “c” e o “tã” converteu-se num “tão” tão sagrado que lhe propiciou ver a herança dos seus antepassados: Cubatão. Não quis atender aos pedidos das dobradiças que rangiam na morbidez de uma destruição inevitável do laboratório rudimentar, quando confiou todos os segredos de seu coração aos cemitérios de Tenório, porque estava escrito que a história da família mais esperançosa do mundo acabaria ali... 


REF.: UMA TOALHA?


Dat veniam corvis vexat censura columbas (“É mais fácil inocentar os corvos e crucificar pela censura as pombas”, Juvenal, poeta romano do Século I).

“A cultura é uma norma, a arte, uma ruptura.” (Jean- Luc Godard)

Boa tarde, Excelentíssima Sra. Prefeita. Estou enviando em anexo como presente, devidamente autografado o meu livro “A Onipresença Eterna”, lançado em 29/09/2011 no Bloco Cultural desta cidade. Creio que os acontecimentos que aqui serão relatados não são de vosso conhecimento e peço também que, por causa deles, não responsabilize ninguém , pois estou apenas exercendo meu direito constitucional no artigo 5º Inciso IV “É livre o pensamento, sendo vedado o anonimato.” Sou servidor público há 6 anos, cubatense nato, pai de dois filhos e um escritor deveras magoado com o poder público desta cidade.
Como disse uma vez Martir Luther King “O que me incomoda não é o barulho dos maus, o que me incomoda é o silêncio dos bons”, ancoro-me para questionar : uma toalha?
Aonde está a toalha, que não apareceu? Infelizmente, nesse país, os homens públicos acham que a cultura se resume ao carnaval. E olha que Monteiro Lobato escreveu “um país se faz com homens e livros” e as grandes potências mundiais só o são por causa da literatura.
Não sei se pelo fato de eu ser um romancista (não esses que Vossa Excelência imagina), mas aquele que nada mais faz do que denunciar a realidade em seus livros, desentendo o que aconteceu com o “desapoio” que a Prefeitura Municipal de Cubatão.
Solicitei o Bloco Cultural e o serviço de som com dois meses e meio de antecedência. Fui atendido com eficiência – embora a falta do microfone sem fio que solicitei ( e que, por causa disso, tive que comprar um do meu bolso), relevei. Lembrando que quando o Prof.Mário Sergio Cortella veio palestrar nesta cidade, teve tudo a sua disposição, enquanto um filho de Cubatão penou pra chegar até o dia 29/09/2011. UFA!
Pedi o cerimonial da Prefeitura. Foi quando passei pela maior decepção de minha vida. A servidora do cerimonial me fez a seguinte proposta : Itamar, eu só posso te oferecer uma toalha...
Uma toalha? Para um município com um orçamento acima de R$ 1 Bilhão de Reais, oferecem-me apenas uma toalha. E o que dizer da nossa Secretaria de Cultura, que, após vários contatos deste escritor nenhuma providência tomou quanto à divulgação do evento de lançamento do livro?
Mas, Excelentíssima Sra. Prefeita, não sei escrever e, por causa disso construi algumas pérolas de nossa literatura como os períodos abaixo (que está na quarta de capa do livro) :

Emitiu um suspiro tão resfolegante das narinas que viajou perdidamente pela atmosfera da cama quebrantada pelo sossego do resguardo, atingiu a quintessência de todas as coisas e tentou desaparecer nas terras revolvidas em baixo dos varais equidistantes, todavia não conseguiu porque serpenteou devagarzinho por esses mesmos varais, escorregou como uma pena, misturou-se a porções intrigantes de grãos de areia e, ao bater chorando no chão, arrancou da gravidade um impulso inverso tão forte pela morbidez com que se desvencilhava do ar que fez todo o caminho de volta, serpenteou os varais, tentou desaparecer nas terras revolvidas, atingiu a quintessência de todas as coisas, viajou perdidamente pela atmosfera da cama e morreu novamente dentro das narinas da mulher, que entendeu como uma prova de que teria mais um filho homem. Lembrou-se das palavras de Marculino: “Não há amor sem onipresença e onipresença sem amor” e viu o qual de cada coisa se restabelecer na ordem do quarto.”

“O vidro das ramificações do candelabro da igreja espatifou-se no chão, e a poeira dos estilhaços adquiriu a leveza suficiente para atingir a casa da fazenda e morrer nos vãos esquecidos, onde insetos rasteiros e aéreos começavam a proliferar porque as salamandras escorregavam com sua pele escamosa na superfície, agonizavam suspirantes até o piso e eram levadas pelo vento da extinção até a torrente, e tentavam fazer todo o caminho de volta, quando eram engolidas pelos predadores maiores.”

Não se preocupe, um dia aprendo a escrever, Excelentíssima Sra. Prefeita.

Como citei Godard, gostaria de compará-lo com o que acontece neste municípío. Se a cultura é uma norma, e a arte, uma ruptura, como ele bem disse, afirmo com toda convicção que por estes lados esta lógica é invertida : “A arte é uma norma, e a cultura, uma ruptura.” É a cultura do panem et circenses, a cultura do pão e circoda roma antiga, que Vossa Excelência deve conhecer.
Uma toalha? Seria ela de cetim, de visom, de algodão ou do descaso para com os artistas desta cidade? Graças a Deus, às pessoas que me ajudaram, e ao meu esforço, o livro está sendo um sucesso.
“Um profeta nunca é aceito no próprio país”, diz a Biblia Sagrada. Agora compreendo o que isso quer dizer.
Existe um país na África, de nome Níger, vizinho a Nigéria, cuja capital é Niamey, onde a incidência de gafanhotos é tão intensa e tão ciclônica que a população recolhe aos montes os insetos e os tem como prato principal em seu cardápio.
Imagina se resolvessemos aqui, nesta cidade, resolver comermos gafanhoto? Seria um desastre. Os verdadeiros cubatenses (embora o verdadeiro gentílico seja cubatonense, o qual não prefiro) sobreviveriam. Mas, os outros, forasteiros, que sequer conhecem a necessidade (Necessitas nom habem legis “a necessidade não conhece a lei, como disse Santo Agostinho, um dos maiores gênios da igreja católica) de nosso povo e sequer são capazes de olhar em nossos olhos, principalmente o Secretário de Comunicação, cujo nome agora não me lembro e não faço nenhuma questão de lembrá-lo, pois ele me tratou como o pai de Franz Kafka o tratou (aliás estas pessoas que tentaram destruir o meu sonho, já leram Kafka. Se não leram, deveriam ler, em parte para adquirir um pouco mais de humanidade e em parte para ter verdadeiro respeito para com os verdadeiros cidadãos deste município). É, acho que ninguém o leu. É como aquele famoso livro de Maquiavel “O Princípe”, tão criticado pelos políticos e seguido à risca por esses mesmos políticos.
Como diz o Apocalipse na “Carta a Laodicéia” : “seja quente ou seja frio, não seja morno senão te vomito.” Por que Vossa Excelência pregou uma coisa nos palanques e agora faz outra? Estais usando de Maquiavel ou da Carta a Laodicéia.
Mas eu explico o motivo de tudo isso. Pra explicar tenho que contar uma história sobre justiça. É um conto afegão...


A CABANA DA LUZES

Afeganistão | Cultura judaica
Era uma vez um judeu que saiu pelo mundo em busca de justiça. Viu
como as pessoas se tratavam mal umas às outras, e como eram cruéis
com os animais. Com certeza, pensou, o mundo todo não era assim
tão inóspito. Em algum lugar, tinha certeza, devia existir a verdadeira
justiça, mas ele nunca a havia encontrado. Então, partiu para uma busca
que consumiu a maior parte de seus anos. Foi de cidade em cidade e
de vila em vila procurando justiça. Mas jamais a encontrou.
Desta maneira, muitos anos se passaram até que o homem tivesse
explorado todo o mundo conhecido, com exceção de uma última floresta
muito grande. Entrou nessa floresta escura sem hesitação, pois a
essa altura já não tinha medo de nada. Entrou em cavernas de ladrões,
mas eles riram dele e disseram: “Você espera encontrar justiça aqui?” E
entrou em cabanas de feiticeiras, mas elas riram e disseram: “Você espera
encontrar justiça aqui?”
Então, aconteceu que o homem perdeu a noção do tempo em suas
andanças. Ao entardecer da véspera de Yom Kippur, o Dia do Perdão,
ele chegou a uma cabaninha de taipa que parecia estar a ponto de desmoronar.
Pela janela viu muitas chamas tremeluzindo, e se perguntou
por que elas estariam queimando. Bateu na porta, mas não houve resposta.
Enquanto esperava, reparou que toda a floresta tinha ficado silenciosa.
Nem um único pássaro estava cantando. Bateu na porta novamente.
Nada. Finalmente, empurrou a porta e entrou.
Assim que entrou na cabana, o homem percebeu que ela era muito
maior por dentro do que aparentava por fora. Viu que ela estava cheia
de centenas de prateleiras, e em cada prateleira havia dezenas de
lamparinas de óleo. Algumas dessas lamparinas estavam em suportes
preciosos de ouro ou prata ou mármore, e algumas estavam em suportes
baratos, de barro ou latão. Algumas pareciam cheias de óleo, e as
chamas ardiam com fulgor. Mas em outras só havia um restinho de
óleo, e parecia que estavam quase se apagando.
De repente um homem idoso apareceu à sua frente. Tinha uma
barba branca e comprida, e estava usando um manto branco.
Shalom aleichem, a paz esteja contigo, meu filho – disse o velho. –
O que posso fazer para ajudá-lo?
O homem que procurava justiça respondeu:
Aleichem shalom, contigo esteja a paz. Fui a todo lugar procurando
justiça, mas nunca havia visto uma coisa assim. Diga-me, o que são
todas estas luzes?
Cada uma destas lâmpadas é a luz da alma de uma pessoa – disse
o velho. – Enquanto essa pessoa estiver viva, a lamparina continua a
arder, mas quando a alma da pessoa abandona este mundo, a lâmpada
se apaga.
O Sr. pode me mostrar a lâmpada da minha alma? – perguntou o
homem que procurava justiça.
Venha comigo – disse o velho, e abriu caminho pelos labirintos
daquela cabana que parecia não ter fim.
Finalmente chegaram a uma prateleira baixa, e ali o velho apontou
para uma lamparina num suporte de barro. O pavio daquela lamparina
estava muito curto, e sobrava muito pouco óleo. O velho disse:
Essa é a lâmpada da sua alma.
Ora, o homem olhou para aquela lâmpada bruxuleante, e um grande
medo o invadiu. Era possível que o fim estivesse tão perto sem que
ele soubesse? Então por acaso ele reparou na lamparina que estava ao
lado da sua. Estava cheia de óleo, seu pavio era longo e bem reto, e sua
chama ardia com forte luz.
E de quem é esta lâmpada? – perguntou.
Só posso revelar a lâmpada de cada um para a própria pessoa –
disse o velho, e virou-se e saiu.

O homem ficou ali, encarando sua lâmpada, que parecia estar quase
se apagando. De repente, ouviu um estalo, e quando olhou para
cima, viu uma fumacinha subindo de outra prateleira e soube que, em
algum lugar, alguém não estava mais entre os vivos. Voltou o olhar
para sua própria lâmpada e viu que sobravam apenas umas poucas gotas
de óleo. Então, virou-se para a lamparina ao lado da sua, tão cheia
de óleo. E um pensamento terrível veio à sua mente.
Afastou-se e procurou encontrar o velho, mas não o viu em lugar
algum. Então, ergueu aquela lamparina com óleo, pronto para derramálo
na sua. Mas, de repente, o velho apareceu vindo do nada, e agarrou
o braço dele com um aperto de ferro. E o velho disse:
É essa a espécie de justiça que você está procurando?
O homem fechou os olhos. E quando abriu os olhos, viu que o
velho não estava mais ali, e a cabana e todas as lamparinas tinham desaparecido.
Encontrou-se sozinho, em pé na floresta, e ouviu as árvores
comentando baixinho o seu destino. Perguntou a si mesmo, será que
sua lamparina tinha apagado? Teria ele também deixado o mundo dos
vivos?




É esse o motivo pelo qual as pessoas aqui agem com os próprios artistas : estão procurando a sua própria justiça e não a coletiva.
Mas, Excelentíssima Sra. Prefeita, para falarmos de justiça temos que, nos supedâneos imaginários de nosso entendimento , falar de uma coisa chamada verdade. Existem três frases cláasicas sobre a verdade : a primeira, do inventor da eletricidade, Benjamin Franklin, “A verdade é filha do tempo e não da autoridade”; a segunda, do grande líder pacifista Gandhi “A verdade é dura como o diamante e delicada como a flor do pessegueiro”; e a terceira(não uma frase mas uma atitude) do homem que dividiu a história, Jesus Cristo que, ao ser perguntado por Pilatos o que era a verdade, e ao olhar no fundo de seus olhos, Jesus silenciou demonstrando uma metáfora incomparável de que ele era a verdade.
Augusto Boal (1931-2009), um grande dramaturgo brasileiro disse uma vez que “a política não é a arte do possível, mas a arte de tornar possível aquilo que é necessário”. Ou a literatura não é necessária à transformação de uma sociedade?
Poderia ficar discorrendo e escrever um livro sobre o desdém e o desprezo pelo qual passei. Mas, serei breve porque sei de seus atarefamentos e não quero que os procrastine por causa de um cidadão que está exercendo seu direito constitucional.
Antes de terminar, gostaria de explanar alguns questiuonamentos : O espetáculo “Caminhos da Independência”, o “Festival Danado de Bom”, a palestra com o Profº Mário Sérgio Cortelala, o Carnaval, as festas bairristas como a “Festa da Banana”, “da Costela”, “da Carne seca”, etc e todos os outros eventos “culturais” desta cidade, será que todos eles terão o desprezo que eu tive. Se tiverem, como acontecerão?Fica esse questionamento.


“Cubatão é uma republiqueta de gafanhotos cheia de jacatirões e artistas abandonados em seus corações.” (Francisco Itamar da Silva (Itamar Esperanto), em seu próximo livro, “O sofrimento é relativo, a felicidade é absoluta).

Uma toalha? Infelizmente, ela não apareceu na noite de lançmento. Onde ela está?

Uma toalha...

Muito obrigado pela oportunidade de desabafar?!


Itamar Esperanto

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